06/11/2011

 

     Meus brinquedos foram pouco a pouco sendo empacotados e empilhados em um armário qualquer. As quatro paredes que cercavam meu universo particular tomaram outra aparência e pareceram não mais suportar a pressão que eu imprimia para expandir meus horizontes.
     Amadureci de forma forçada, vivi no limite que separava meu mundo infantil do meu mundo crescido. Fui me desprendendo por vontade própria do menino que costumava me representar nas brincadeiras de rua, de repente eu era uma criança desenvolvida tentando ser gente grande. Troquei os desenhos por livros, e a inocência pela rebeldia e ceticismo.
     Já não me encaixava na vida que levava. Evoluir foi uma saída para tentar descobrir se havia um propósito maior, um lugar onde tudo era diferente, para tentar dar as mãos para aquelas pessoas que antes eu só via de baixo, da perspectiva de um imaturo alienado.
     Fingir ser adulto me fez descobrir precocemente os horrores que me cercariam para sempre. Abri mão da minha inocência para encarar de uma vez por todas um futuro que, cedo ou tarde, me apunhalaria sem piedade.
     De uma hora pra outra eu já não estava fingindo, havia me tornado um adulto de fato. Nesse processo sem volta só me restou olhar para trás e ver aquele garotinho ambicioso que só queria descobrir coisas novas e entender sua própria história. Garotinho esse que só me lembro vagamente, sorrindo para as fotografias. Quem dera na época eu soubesse que não ia gostar de saber o que hoje sei. Ah, infância.

04/09/2011

     Nos mais estúpidos momentos em que me isolei da realidade estava a construir um mundo. Cercado por uma esfera frágil de vidro meu universo tomou forma. Como em uma festa de alto estilo, pessoas eram selecionadas para entrar em minha fantasia fútil. Comecei a idealizar cada detalhe e, por alguns lances de segundos, parecia tão real que era difícil diferenciar da realidade.
     Minha insanidade havia chegado a tal ponto que, mesmo fora do meu "abrigo de vidro", estava rejeitando pessoas simplesmente por não corresponderem às minhas expectativas de perfeição. Cada defeito em cada ser com o qual me relacionei assumia uma proporção exagerada, impedindo de me encantar com simples gestos.
    Ando me questionando até que ponto eu deveria tolerar tudo aquilo que foge aos meus princípios. Talvez eu precise de paciência para encontrar o que realmente ando procurando ou tolerância pra aceitar aquilo que me foi imposto. Ou talvez eu só precise estourar minha bolha protetora e me libertar de conceitos que me impedem de desfrutar das pequenas coisas que compõem meus dias bipolares.
     Se estou pronto para me desprender das minhas fantasias sem sentido, não sei. Afinal, quem sabe não seja isso que me mantém em constante evolução e em constante busca pelo equilíbrio emocional?

17/08/2011


Apenas mude porque você quer
Apenas mude porque você gosta
Mude porque você sente
Não porque você viu isso
(Just do it - Copacabana Club)




     Como em um álbum de fotografias fui registrando pessoas, momentos inesquecíveis. Meu erro foi deixar que o "álbum" se transformasse de baú de recordações para parâmetros de referência. Passei a comparar novos amigos, novos amores e novas diversões com aqueles que eu considerava perfeitos. Decepcionei-me, obviamente. Perdi a capacidade de aproveitar o que era novo para lamentar o tempo que não voltaria mais. Perdi a perspectiva, criei apatia pelo mundo e fechei minha alma para pessoas que, no fundo, só queriam fazer parte da minha vida. Havia me tornado um ser frio.
     Disseram pra mim que do fundo do poço o único caminho é a subida. Eu, contraditório como sempre, resolvi cavar mais fundo. Entrei em estado de inércia, parado no tempo; como um zumbi que caminha sem consciência. Perdi muito tempo, confesso, mas consegui dar sentido de novo às coisas.
     Caminhando pela rua li na camisa de alguém a frase "Just do it". Fiquei com isso na mente e resolvi me livrar de todos os velhos pensamentos. Coloquei meus fones e dei play nas minhas músicas favoritas; estava disposto a revolucionar tudo que me causava aflição. Aceitei um convite pra uma festa e foi lá que conheci pessoas maravilhosas que a cada dia se conectam mais comigo. Quando me dei conta eu estava sorrindo e encantando gente de uma forma que eu sentia falta.
     Um grande amor ainda não encontrei, nem tampouco ando a procura. Meu conforto encontro quando repouso minha cabeça sobre o travesseiro e reflito na quantidade de momentos únicos que colecionei ao longo do dia. Dessa vez não pra competir com outros tantos, mas para se unir à minha humilde biografia juntamente com todas as alegrias que me espera. Estou vendo a vida com outros olhos, com outra perspectiva    
 - Obrigado Complexo de Anjo (http://complexodeanjo2.blogspot.com/) pela inspiração.

04/08/2011

- Ela parece distante...
- Talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes. 
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem? 
-Autor desconhecido.


03/08/2011

     Tentei dormir agora, mas meus pensamentos me pesam tanto que resolvi rascunhar alguma coisa aqui pra aliviar minha vontade extrema de gritar. Quero voltar no tempo. Não de uma forma fantasiada de "plim, voltei dois anos"; eu só queria poder recomeçar algumas coisas e corrigir outras tantas.
     Quem disse que nunca é tarde pra nada não estava falando tão sério assim. Parei de acreditar ha tempos que eu sou capaz de fazer qualquer coisa. Já era hora de reconhecer meus limites e aceitar algumas fatalidades que me foram impostas.
     Talvez eu seja preguiçoso, sempre adiando os fatos e deixando que as coisas se resolvam por si só. Pensei que a faculdade fosse uma oportunidade de começar do zero, me apresentar como uma nova pessoa. Ledo engano, onde quer que eu vá eu sempre levo minha personalidade precária e consigo alguma forma de afastar as pessoas.
     Houve um tempo em que eu era feliz, feliz mesmo, completo e pleno. Agora parece que nas poucas vezes que esboço um sorriso é de forma breve e sem profundidade. Não quero fazer disso um melodrama com um requinte de novela mexicana. Eu apenas ando buscando uma maneira de colocar minha vida de volta aos trilhos, achar alguma motivação ou detalhe que complete minha rotina desgastante.
    Eu quero entrar de novo no "wonderland", achar um pequeno espaço que me caiba nesse universo. Universo que eu não compreendo, universo que me seduz.
-S.

09/07/2011

     Hoje acordei meio estranho, querendo desabafar mas sem saber com quem e sobre o que. Me lembrei do velho blog. Espero daqui a alguns anos voltar aqui e encontrar conforto nas minhas próprias palavras. Ideia inútil, talvez, mas que no momento oferece uma ponta de esperança.
     Já tem um tempo que eu paro de vez em quando pra pensar nas coisas que eu estou fazendo, que eu quero fazer ou não. Os dias estão passando tão depressa que eu sinto como se estivesse empurrando com a barriga tudo aquilo que eu, na humilde ignorância, tento digerir. Perdi a paciência com meus amigos, minha família. Tudo  que eu desejo às vezes é parar no tempo pra colocar as coisas em ordem, isso se eu soubesse identificar o que está fora de lugar.

"Eu quero ficar só, mas comigo só eu não consigo. Eu quero ficar junto, mas sozinho só não é possível."

08/06/2011

     Eu sempre fui do tipo de pessoa que batia no peito pra falar que não me deixava influenciar por amigos e etc com relação a drogas e bebidas. Então, ledo engano. Na verdade ninguém chegou a me oferecer cigarro algum dia, mas foi com uma amiga que decidi experimentar. E lá estava eu, comprando pela primeira vez meu primeiro (de muitos) canudinho envenenado. Como se fosse ontem, eu ainda me lembro da vergonha de fazer o pedido no balcão e o pior, acender um com a notável falta de prática que eu tinha.
     No começo me pareceu um ritual ridículo de sugar o ar e soprar. Me perguntava qual a graça nisso tudo. Foi na internet que descobri um site que ensinava técnicas e falava tudo a respeito do fumo. Fique impressionado, óbvio, e em pouco tempo lá estava eu na varando brincando de ser O fumante.
     Cheguei a criar uma expressão "fumar bem fumado" que eu usava quando aproveitava intensamente o cigarro absorvendo ao máximo toda nicotina possível. Quando isso aconteceu pela primeira vez fui tomado por uma tontura e uma sensação de embriaguez incrível. Comecei a rir e delirar, juro! A partir de então comecei a fumar um por dia. Toda noite corria pra varanda e saboreava um "Black de menta" e curtia aquela sensação paradisíaca.
    Passado algumas semanas comecei a enjoar do cigarro e quando fumava sentia dor de cabeça e até fazia vomito. Hoje parei e se pego algum dos que restaram na última caixa e por puro ócio. Não sei se cheguei a experimentar a dependência, foi mais uma fase de descoberta. Prefiro que fique assim e que eu reserve o fumo apenas para uma eventual festa ou ocasião especial.
     O melhor de tudo era deitar na varanda, ficar admirando a fumaça e pensando na vida. Mas posso garantir que a sensação pós-fumo é desagradável e deprimente, acredito que seja assim com drogas também, não sei. Cigarros à parte, a vida segue e é nesse ritmo que vou levando a rotina misturada ao desejo profundo de que aconteça algo inovador. Afinal, tenho um desprazer imenso por dias iguais.

http://artedefumar.tripod.com/index2.html

24/05/2011

     Nunca fui do tipo de pessoa que passa horas devorando um livro, eu diria que apenas gosto de ler. Já cheguei à conclusão de que a internet acabou com vários hábitos meus, inclusive o da leitura (no livro propriamente dito). Mesmo assim ainda me encanto por um livro ou outro que, por alguma razão, me chame a atenção.
     Em uma de minhas visitas ao YouTube, encontrei uma entrevista com  Fabrício Viana que escreveu um livro muito interessante. O título: O Armário. Por incrível que pareça ele é recomendado para todos os públicos e após algumas lidas no site dei um jeito de encaixá-lo na minha lista de "livros para ler antes de morrer". Só é vendido pela internet pelo autor, ou seja, pirataria zero (ou quase). Uma das citações:

Se a leitura é excelente para quem não é homossexual, imagine para quem é ou acha que é? Afinal,´sair do armário', se aceitar e se assumir, não é tarefa fácil pra ninguém. Porém, mesmo que se consiga fazer isso,ainda não é suficiente. Precisamos também nos livrar do negativismo homossexual e da homofobia internalizada que introjetamos em nosso inconsciente desde pequenos. Por isso a leitura do meu livro serve também para quem é gay e assumido. Sendo quase que "obrigatória" a todos os homossexuais.

22/05/2011

      Em um determinado ponto do tempo o mundo passou a ser uma vitrine pra mim. Me peguei várias vezes admirando coisas e pessoas que na verdade estavam longe, do outro lado do vidro. Era como se eu não fizesse parte. Na verdade eu precisava mesmo desse tempo para me encontrar e traçar o que eu realmente queria e o que eu gostaria de descobrir de cada pessoa.
      Tive que aprender muito cedo a me defender de coisas que eu nem sabia que existiam. Por vezes me sentir sozinho, como se eu fosse o único a cuidar de mim. Encantei algumas pessoas, conquistei alguns inimigos e outras deixei passar por preguiça de me entregar.
      Apesar de acreditar na autencidade e honestidade fui forçado a fazer uso de "máscaras" e me sinto péssimo sendo alguém que os outros querem que eu seja. Era isso ou ingressar numa guerra para a qual eu não estou preparado ainda.



Queria ser alguém destacável, talvez pra compensar minha falta de genialidade ou habilidade de me relacionar com as pessoas. Pois bem, não sou. Por tempos me defini como "normal", adequado ao clichê de "mais um na multidão", na faculdade descobri que não era e que poucas diferenças ou atitudes são capazes de imprimir um rótulo que funciona como uma espécie de muro me separando de um universo que, sinceramente, eu gostaria de fazer parte.


 
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